Um amor e um lenço


Guardo a essência do nosso amor
num lenço branco,
perfumado pelo teu cheiro
e ungido do meu pranto…
Lembras-te?...
Emprestaste-mo,
à míngua do abraço,
quando uma dor mais forte
me sangrou lágrimas
e nos uniu, em invisível laço.
Terias talvez mais,
muito mais, para me dar:
o calor do teu peito,
o cálice das tuas mãos,
a ternura do teu jeito
de, discretamente, me amar…
Mas tudo o que pudeste
foi dobrar um beijo magoado
no lenço que me estendeste…
Ainda hoje o guardo:
é relicário das lágrimas,
do perfume que ficou,
e do beijo decalcado,
como pétalas entre as páginas
onde o nosso amor secou...