Uma tarde de sol

Uma tarde de sol

Hoje eu briguei com Tempo, tirei um tempo prá nós; um tempo só nosso, daqueles tempos de esquecer o relógio, só prá ficar, nesta tarde ensolarada, procurando estrelas na aveludada noite de teu olhar.

Encontrei uma brecha no espaço-tempo: nela fiquei escondido, a degustar as variações de notas do perfume que usas, a auscultar, nas dobras de teu pescoço, as suaves batidas de teu coração.

Flagrei, a caminhar ao teu lado, de uma dama o olhar espantado, ao perceber os nossos gestos de enamorados; minha mão perdida dentro de teus cabelos, tua cabeça suavemente derreada em minha mão.

Estas ruas de trânsito caótico, entremeadas de árvores viçosas, testemunharam o meu desejar mais constante, meu milenar sonho hipnótico – passear de mãos dadas contigo, sem nenhum perigo a rondar.

Os macaquinhos no chão, os peixes no lago a nadar, crianças em alegre alarido no parque, entre nós uma vida em botão, um miosótis fecundando o jardim – este céu muito azul boas novas nos traz.

Nesta guerra sem fim com o Tempo resgatamos as crianças em nós, nos permitimos brincar sem melindres, ultrapassar os limites da vida, namorar sem fronteiras nesta luminosa tarde de Maio, uma tarde sem par.

Fora do parque, e deste nosso mundo isolado, milhões de carros a se atropelar na fumaça: tu me pedes um fruto impossível (só por graça...), uma dádiva numa árvore imponente, mas que pena! Não a posso alcançar.

Entre os carros e a tarde, nós dois a fugir deste Tempo perverso; uma canção marinheira eu te canto, outras tardes a exumar nestes versos, noutros cantos queremos sonhar um perene sonho de amor e de paz.

Quanto encanto me trazes, quanto amor te devoto. Transmutei minha paixão tão pujante por esta tocante ternura, por estes momentos marcantes vividos nesta tarde de sol, a permutarmos mimos e juras.

Fotografei tua imagem na mente, recolhi o sabor de teus beijos, suaves beijos que em meu colo me davas, comparti de tuas dores também; os bem-te-vis, solidários, cantavam – em outros páramos já estavas a dormir.

Meu amor, já é tempo de irmos embora. Este Tempo que a tudo e a todos devora, que por hora conseguimos enganar, impaciente nos espera lá fora. Não há mais tempo: precisamos partir.

Outras tardes de sol nós teremos, outras guerras contra o Tempo farei, outros frutos em outras árvores colheremos, teus desejos e meus desejos num só misturados – prá nos amar não há falta de tempo, não existe censura.

O dia em que um homem, ou uma mulher, alegarem não dispor de tempo para se amarem é porque não mais estão se amando. Quem ama sempre vai encontrar uma maneira de achar um tempo para o amor, a única coisa que faz realmente o Tempo valer a pena em nossas vidas.

Cidade dos Sonhos, manhã de uma Quarta-Feira do início do mês de Maio de 2010

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 05/05/2010
Reeditado em 05/05/2010
Código do texto: T2238287
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