Penélope em estado de alerta

Penélope em estado de alerta

Que mania mais sem graça tenho eu de querer reformar o mundo;

De amar sem medidas, de me sentir amado sem fronteiras, de querer sentir que sou amado de portas abertas.

No entanto, o que se me depara são mulheres de rostos assustados, Penélopes em estado de alerta.

Paro, reflito e racionalizo.

Aviso aos meus impacientes botões que elas não o fazem por mal – Penélopes sentem muita dificuldade de efetuarem um mergulho bem fundo.

Penélopes são mulheres de fibra, criam seus filhos com método; organizam sua vida com calma.

Penélopes são mulheres para ser levadas a sério.

Paradoxalmente, Penélopes também gostam de cultivar um certo ar de mistério.

São lindas mulheres. Mais lindas ainda quando se enfeitam com o melhor de seus sorrisos.

Mas, quando atinge a idade madura, Penélope busca o que sempre quis: olhar perdido no horizonte a esperar um Ulysses que lhe acarinhe a fronte - que chegue e lhe fale diretamente a alma.

Penélopes nunca se sentiram amadas.

Para que eu não aja como um Fídias desatento, devo ficar atento para amar a minha Penélope com doçura; toda doçura do mundo - doçura que ela não está acostumada.

Nós carregamos tantas travas ao longo do nosso viver, que acabamos por nos acostumar a elas. Mesmo que saibamos que essas travas são pesadas e prejudiciais, criamos uma tal afinidade com as mesmas que se torna praticamente impossível nos divorciar da carga que representam. Então, como obedientes bois de carro, aceitamos a canga na cerviz, apesar do incômodo que sentimos.

Cidade dos Sonhos, manhã de uma Segunda-Feira ensolarada de início de Março de 2010

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 26/05/2010
Reeditado em 04/01/2021
Código do texto: T2281077
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