Meu Anjo, Escuta

Le mal dont j'ai souffert s'est enfui comme un rêve,

Je n'en puis comparer le lontain souvenir

Qu'à ces brouillards légers que l'aurore soulève

Et qu'avec la rosée on voit s'évanouir.

MUSSET

Meu anjo, escuta: quando junto à noite

Perpassa a brisa pelo rosto teu,

Como suspiro que um menino exala;

Na voz da brisa quem murmura e fala

Brando queixume, que tão triste cala

No peito teu?

Sou eu, sou eu, sou eu!

Quando tu sentes lutuosa imagem

D'aflito pranto com sombrio véu,

Rasgado o peito por acerbas dores;

Quem murcha as flores

Do brando sonho? — Quem te pinta amores

Dum puro céu?

Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém te acorda do celeste arroubo,

Na amenidade do silêncio teu,

Quando tua alma noutros mundos erra,

Se alguém descerra

Ao lado teu

Fraco suspiro que no peito encerra;

Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém se aflige de te ver chorosa,

Se alguém se alegra co'um sorriso teu,

Se alguém suspira de te ver formosa

O mar e a terra a enamorar e o céu;

Se alguém definha

Por amor teu,

Sou eu, sou eu, sou eu!

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 26/05/2010
Código do texto: T2281488
Classificação de conteúdo: seguro