A Mesma Esquina da Sua Nova Escura Esquina

Por mais que passe o tempo

e eu ande em outras vias que acessam outras histórias

por mais que eu queira e invista

e me machuque por outros campos

e eu vista outra capa

empunhe outra máscara

envergue outra espada

declame outros versos

defenda outra tese

mude o trajeto

cerre janelas

escute outros grilos

engula sapos

mova a roda

trave o breque

trague o beque

mude a régua

assole a égua

meta o pé na jaca e bata a canela na quina

mastigue o cravo

aspire a nicotina

deseje morfina

mude a dieta

escolha a reta

encurve de banguela

engarrafe a viela

irrite os passantes

maltrate o atendente

socorra o pedestre

encare o farol

encarete de vez

encane e desencane

suba a trilha

ensurdeça no agudo da corda

no grave dos tons

caixas e bumbos

emudeça em minhas próprias cordas

soluce sobre o colchonete ouvindo os sinos

e ouvindo os sinos transborde os olhos

me encharque

me seque

me encolha

me recolha e me expanda

me torture

me boicote

me anule

escarre a alma e a recolha pelos poros

quebre os espelhos

durma acordada

entreveja novos rumos

acorde dormindo

me engabele com um ou dois doces

e uma estrelinha marrom

ande de luz alta e de olhos fechados

querendo a morte, qualquer que seja a sorte

e minha sina torta se endireite

pra se entorpecer de novo na mesma esquina

a mesma esquina

sempre a mesma esquina...

Por mais que o céu se faça rosa

e a lua surja densa e amarela na vastidão dos sinos,

não esqueço seu abraço

e nele me deito

me enlaço

me incrusto.

E me perpetuo, bebo sua fonte

ternura que só eu reconheço

no escuro da sua nova esquina.

Sou sua.

Pra sempre.

Jane de Paula Carvalho Santos
Enviado por Jane de Paula Carvalho Santos em 01/06/2010
Código do texto: T2292983