Amas-me
Amas-me, mas ages como se não amasse.
Amo-te, mas ajo como se minh’alma não cantasse.
E neste fingir tão incoerente, perdemo-nos.
Outros desejos nos consomem, e, por fim, esquecemo-nos.
De que adianta amar, amar para si?
Pois digo que amo-te, e, reclusa, pereço por ti!
Quem disse que seria fácil amar?
Quem disse que por amor é preciso suicidar?
Suicidar a alma, a calma, a vida?
Pois por ti, meu amor, já decretei minha partida...
Já desisti do canto dos pássaros,
E repouso no refúgio da solidão.
Clamo pelo silêncio dos sádicos,
Dos que deixaram o amor no porão.
Hoje é um fardo amar.
Hoje, não sei mais, a quem no mundo procurar.
Bobagem! Procuro por ti, sem hesitar.
Mas hesito, enfim, em teu olhar.
E meu amor não acaba, recomeça a cada manhã.
Dentro de mim, longa morada.
Meu amor cria assim seu próprio clã.
Aldeias, estradas, rios de ilusões
Tornados, charadas, trovões.
Amas-me, é o que preciso saber.
Pena este nosso amor não dar-nos de beber...