DO JAZZ...
Som, cortina noturna,
Sax a despertar-me calafrios,
No piano, frases de intensa sedução.
Deixo de ser apenas rosto, multidão,
Sou quatro paredes, significados.
Afino meu toque em tons eloqüentes,
Arranho a pele com notas dolentes,
Desnudo a alma, exposta, à venda.
Lembra-te o meu nome?
Oferece-me uísque, muito gelo.
Tece em tuas pernas meu travesseiro,
Interpreta, em elegante compasso,
Meu sutil melodrama de mulher,
Delicadeza agressiva, ternura melódica.
Como a voz rasgada das divas dos blues,
Estou além da dor, em suave agonia.
No teto, redondas luas de papel
Gemem improvisos desconcertantes,
Denunciam desejos, aprofundam sentidos,
transformam música em muitas versões.
Entrego-me inteira, sem mais resistir:
És meu homem, meu doce suicídio,
A morte em acordes quase selvagens,
Todo o jazz...