Açucena...
No éter azul cheio de magia
nuvens são flocos de poesia
descobrindo um rio d’alma...
E brando zéfiro curva a palma
mas não acalma as ansiedades;
leva palavras, traz vontades
e, sem demora e sem delonga
nega-me a noite mais longa
pra que eu, dormir, nem possa
pois quando o sonho se esboça
um pombo em recortado voejo
toma nas asas o meu desejo.
Enquanto decifro a voz do vento
suspeito que foi meu pensamento
quem te trouxe aqui e agora...
Quando tormentas rugem lá fora;
nuvens engolfam clarão de lua
e eu posso tocar-te a pele nua
mas sopre brisa e sopre aragem
nunca vejo um fim nessa viagem
porque a noite retorna pequena
escondendo de mim tua açucena,
parecendo que a vida se resume
em embriagar-me de seu perfume
mas por artes de sina e estrela
nunca ter a ventura de poder colhê-la!