UM PONTO NO MEIO DO NADA

Sou essa angústia que te engole no burburinho do vento.
Sou essa pedra que sapateia nos teus pés.
Sou essa fresta de luz que incomoda tua visão.
Sou esse cisco que arrelia teus olhos.
Sou essa alergia que te arrelia a pele.
Sou esse espinho que te faz doer à palma dos pés.
Sou essa aspereza das tuas mãos.
Sou esse pigarro na tua garganta.
Sou esse cheiro forte no teu nariz.
Sou esse ruído ensurdecedor nos teus ouvidos.
Sou essa secura travosa na tua boca.
Sou esse silêncio que ressoa na mais profunda calmaria.
Sou esse martelar constante na tua cabeça.
Sou esse inseto que teima em te picar.
Sou esse pó asfixiante que se atira sobre ti.
Sou a insônia que te consome noite após noite.
Sou tudo que parece ter sido concebido para te perseguir.
Enfim sou qualquer coisa que tira teu sossego.
E serei assim até tua rendição...
A essa ensandecida paixão que me faz penar e me deixa sem chão.