Quando nós

Temos uns segredos, eu e ele

coisa à toa, nada que machuque

temos a lira do esfregue

e até um amor de açude

derramamos a sanha na boa

encaramos por aí, amiúde

pautamos até umas loas

sérios, cheios de virtudes

somos vadios, bandidos, loucos

marginais de carteirinha

nossa sanha é para poucos

e nossa erva é mais daninha

nosso eixo é sempre mais baixo

daqueles que ninguém acredita

somos a uva e o cacho

a mulher e seu macho

luva amarrada em fita

estamos os dois nuns esfregues

chamando a partilha mais louca

nós dois, ao demônio, entregues

na língua e no dentro da boca.