Encontro de olhos

o tempo já não passa como ontem

sentenciei todos os meus minutos

tudo o que era restante

o tiquetaqueado das árvores é o que me guia

sento por aí

(em pensamento)

e não encontro nada pra pensar

vasculho todas as lembranças

procuro alguma coisa

só por procurar

o tempo passa lento ou ávido

não me lembro

silenciei vários gritos

sufoquei o choro de agora

(deixei ele pra amanhã)

alguém me olha sentada

(onde não estou)

eu observo,

calada,

as nuvens que se deformam no céu

o tempo parou cauto e dramático

cantarolei qualquer canção minha

(eu invento, é fato)

perdi meus desejos nesse momento

joguei meus sonhos na lixeira lá atrás

catei os restos das lembranças dele

agarrei forte ao meu peito

abracei a mim mesma

por pouco o choro cai

o tempo parou e voltou rápido

transformou a realidade em fantasia

me pegou de surpresa

(quem diria?!)

me pregou uma peça

o que era pouco e restante cresceu

os olhos dele me alcançaram

pararam

eu parei

os minutos logo correram

as árvores se agitaram

e eu me virei

corri na direção oposta ao desejo atual

gritei para o que sufocava o choro

eu queria minha liberdade, afinal

os olhos me acompanharam

encontrei-os no lugar que eu (não) estava sentada

abusei da sorte e pulei

o tempo parou de novo

ficou tudo imóvel e quieto

meus lábios estavam nos dele

percebi por um segundo

mas acordei

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 02/09/2010
Reeditado em 02/09/2010
Código do texto: T2473945
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