Encontro de olhos
o tempo já não passa como ontem
sentenciei todos os meus minutos
tudo o que era restante
o tiquetaqueado das árvores é o que me guia
sento por aí
(em pensamento)
e não encontro nada pra pensar
vasculho todas as lembranças
procuro alguma coisa
só por procurar
o tempo passa lento ou ávido
não me lembro
silenciei vários gritos
sufoquei o choro de agora
(deixei ele pra amanhã)
alguém me olha sentada
(onde não estou)
eu observo,
calada,
as nuvens que se deformam no céu
o tempo parou cauto e dramático
cantarolei qualquer canção minha
(eu invento, é fato)
perdi meus desejos nesse momento
joguei meus sonhos na lixeira lá atrás
catei os restos das lembranças dele
agarrei forte ao meu peito
abracei a mim mesma
por pouco o choro cai
o tempo parou e voltou rápido
transformou a realidade em fantasia
me pegou de surpresa
(quem diria?!)
me pregou uma peça
o que era pouco e restante cresceu
os olhos dele me alcançaram
pararam
eu parei
os minutos logo correram
as árvores se agitaram
e eu me virei
corri na direção oposta ao desejo atual
gritei para o que sufocava o choro
eu queria minha liberdade, afinal
os olhos me acompanharam
encontrei-os no lugar que eu (não) estava sentada
abusei da sorte e pulei
o tempo parou de novo
ficou tudo imóvel e quieto
meus lábios estavam nos dele
percebi por um segundo
mas acordei