AGORA...
 
 
A chuva chora de mansinho
bate na vidraça que embaça.
Soluça baixinho... 
Diz o sopro do vento
que nos rastros do tempo,
toda dor passa.
Se ora me desfaço
amanhã renasço,
faceira e sem embaraço.
 
Sei... Um dia também passo,
que eterna não é essa minha pele
e enquanto a partida não se revele,
minh'alma infinita
sonha com a magia do amor,
mesmo se finito for. 
 
Que venha ungido de sons,
tons e gemidos
e acorde meus sentidos
com beijos adocicados,
juras impuras selados,
corpos colados, suados...
 
No cantarolar da fina garoa 
que agora cai lá fora
entrego-me em seus braços 
solta e nua, nessa tardia hora.
 
Esqueço a falsa moralidade
e a covardia da minha casta metade.
Sou sua...
 
Prenha de liberta felicidade
possua-me de mansinho...
Vá tecendo rendas de carinho 
por todos os caminhos
dos meus cantos e recantos,
revestindo-os de encanto.
 
Conceda-me seu prazer 
para assim preencher
as lacunas do meu querer.
Quero o agora, sem demora 
e por inteiro...
 
Saborear cada gota do instante,
completo, ardente e sem correntes.
Preciso aplacar o frio da solidão
antes que amanheça desencanto,
pois ao findar da noite a escuridão
e a lucidez do sol raiar
clareando a realidade
sei que muito vou chorar,
por sonhar em vão... 
 
 
 
2006
Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 23/09/2006
Reeditado em 06/01/2013
Código do texto: T247654
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