Rosas de um inverno póstumo

Foi um sonho... foi um sonho?

Desperto. O fibrilar em meu peito me exaspera.

O arfar é grande... é intenso... o sentir é belo...

Não foi um sonho!

Dois olhares se fitavam, eu lembro;

dois olhares e um deles era o meu;

dois olhares, dois corpos, dois pensamentos;

se desejavam, ela e eu.

A trouxe em meus braços e ela deixou;

foi como tocar as nuvens de um céu distante!

Eu olhei pra ela, ela me olhou

e o plano me dizia: segue adiante!

Mas que plano?

Eu não sabia. Só sabia que existia...

Ela estava lá! Diante de mim; seu peito a pulsar. seu rosto a sorrir...

O que eram aqueles olhos? Eles ainda me fazem sufocar!

Meu peito cresce sem exitar...

Me olhavam... me olhavam tanto!

que no mundo cessava o grito, calava o pranto...

tudo em silêncio pra nós!

Eu a olhava e a desejava... como queria... como queria...

e minha alma desarmada àqueles lábios se rendia.

Um instante. Um pensamento. A tentativa final de uma razão sem sentido... malograda razão atirada ao olvido...

tenho razões maiores que ti!

Ela estava tão perto... tão perto... meu coração gritava e nada mais ouvia... meus braços com ela, meus olhos com ela... meu corpo com ela...

"Me desculpa, moça" - Apagou-se toda a luz ao meu redor.

Estava cego e surdo e mudo... o toque em seus lábios congelou-se no tempo...

O desafio de toda a poesia é descrever isto...

A dança, a música... os sentidos estavam ávidos e confinados àquela cela... como eu amo aquela cela!

Aquele momento doce que deixou um azul e um vermelho em meus lábios... Aquele momento que anulou tudo ao meu redor...

Um sol de mil anos, um paraíso... tão harmônico e pleno...

A combinação perfeita de duas almas loucas... sim, loucas! Sim, perfeitas!

Deu-me asas e vida e amor, tão bonito!

Roubas-te a cor do mundo pra colorir isto pra mim...

Condenado estou. Condenado fui por beijar os lábios da minha alma... peço: por favor, carceireiro, bom homem, leve-me ao meu cadafalso! Execute-me por fim... minha pena é amá-la pra sempre!