O diário e o mar

Sou um pequenino e velho diário, trancado por um nó de ouro e prata;

Tu és o imenso e profundo mar, em maré alta de desejo que mata;

Antes de ti não era usável, descartável, era porto de grandes histórias;

Mas algum fato me desapertou o nó e abriu minhas páginas à vontade do vento;

O vento que me beijou as faces por exatos dois mil, cento e noventa dias;

Você lambeu minhas folhas e as molhou com suas ousadias, agora estou aberta e perdida na areia.

Sou um audaz e simplório diário, iluminado pela luz noturna do farol;

Tu és o imponente e covarde mar, que me molha com as espumas, mas não me leva embora;

Antes de ti havia algo escrito dentro de mim, algo que deveria ser só meu, eu era dono de meus poemas;

O menino me escreveu em exatos dois mil, cento e noventa dias;

Mas você me lê quando lhe é fato e em mim escreve quando lhe é ato, me esconde de dia e me penetras de noite;

Você me ilustrou em cores fortes e apagou a tinta das minhas palavras, agora estou manchado e jogado na areia.

Quem dera em mim ter mil palavras, para te fazer ficar;

Quem dera em mim ter mil canções, para te fazer me amar;

Quem dera em mim ter mil histórias, para te fazer me entender;

Meu amado e grande mar, hoje sou apenas um diário na areia esperando que você me leia.

Anna Karenina
Enviado por Anna Karenina em 19/10/2010
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