O diário e o mar
Sou um pequenino e velho diário, trancado por um nó de ouro e prata;
Tu és o imenso e profundo mar, em maré alta de desejo que mata;
Antes de ti não era usável, descartável, era porto de grandes histórias;
Mas algum fato me desapertou o nó e abriu minhas páginas à vontade do vento;
O vento que me beijou as faces por exatos dois mil, cento e noventa dias;
Você lambeu minhas folhas e as molhou com suas ousadias, agora estou aberta e perdida na areia.
Sou um audaz e simplório diário, iluminado pela luz noturna do farol;
Tu és o imponente e covarde mar, que me molha com as espumas, mas não me leva embora;
Antes de ti havia algo escrito dentro de mim, algo que deveria ser só meu, eu era dono de meus poemas;
O menino me escreveu em exatos dois mil, cento e noventa dias;
Mas você me lê quando lhe é fato e em mim escreve quando lhe é ato, me esconde de dia e me penetras de noite;
Você me ilustrou em cores fortes e apagou a tinta das minhas palavras, agora estou manchado e jogado na areia.
Quem dera em mim ter mil palavras, para te fazer ficar;
Quem dera em mim ter mil canções, para te fazer me amar;
Quem dera em mim ter mil histórias, para te fazer me entender;
Meu amado e grande mar, hoje sou apenas um diário na areia esperando que você me leia.