AMOR DESMEDIDO

Ah...o quanto grande já fui,

alto como um prédio abarrotado de tédio,

imenso como ponte que nunca se acaba,

cachoeira desmedida que se fosse lançada

cobriria boa parte da terra devastada...

Fui,

do ouro o brilho,

do titânio o perigo,

do tigre os dentes,

da pantera o olhar...

Fui,

da fome o trigo,

do perdão o castigo,

no são o demente,

o aquário do mar...

Ah...basta um encontro para acabar de pronto

com desmesuras, altitudes, alturas,

desvarios, chiliques, rios

de delirantes marés,

basta um olhar que já vem desmontando

qualquer engenho que seja humano

e bem maior que todo pensamento,

desmonta a biga e reconstrói sem dor,

como escultora esculpe o delicado amor

que nos protege de toda insanidade

que porventura aflige a humanidade,

e nos devolve lá a quem nós somos,

humanos, belos, antigos cromossomos,

e tudo isso vem numa mulher,

que mais que desejo e fome de pele,

o meu amor é o que ela quer

e o seu amor eu também o revele.

Quantas léguas perdi no caminho,

quantas centímetros de pura ilusão,

apenas para absorver carinho

sem medida no meu coração.