Soneto Do Esperar

Já preparei nosso canto,
pendurei na parede os versos que nos remetem ao nosso mais sublime recíproco encanto,
alí és presente, eu te encontro, é o meu necessário e singular acalanto,
cama que anseia o calor dos nossos corpos sem prantos, luar beijando as telhas,
coruja que alardeia, pés de jabuticabeiras,
ao fundo descansam serenas e passivas roseiras,
livros que na estante permeiam,
esquecidos de me lecionarem como agir com o que dentro me incendeia,
queimando tal qual a lareira que insistentemente centelha,
em frente a algumas solitárias cadeiras, companheiras solidárias,
tal qual o cão que no alpendre passeia,
a espreita de mais um alvorecer que não falha em se anunciar,
acordando os curiós que se bronzeiam,
divididos com um cantar que se assemelha,
à nossa mais linda melodia que o tempo ainda não tragou,
tua foto em um porta retrato na cabeceira,
o brilho dos teus olhos é o que me norteia,
a esperança do teu cheiro nos lençois aflitos que apenas almejam teu corpo desnudo a neles definitivamente descansar,
te aguardo em nosso canto,
com os pés na areia,
poldando belas orquídeas que formoseam,
o jardim esguio erguido tão só para te agradar,
exatamente como outrora prometido e da mesma forma conforme, meu grande amor, eu te espero,
se não surgires me conformarei com os versos longos,
pendurados na parede,
necessário e derradeiro acalanto,
alí sempre fostes presente eu não a perco,
e incondicionalmente eu te encontro,
nos balbuciares grafados, impressos, incertos,
de nosso mais que dolorido desencontro.


 
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 19/11/2010
Reeditado em 26/09/2017
Código do texto: T2624858
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