BATESTE À MINHA PORTA
Bateste à minha porta de levezinho
Para não me acordares num repente
Bateste com pancadinhas de carinho
E a porte foi-se abrindo, lentamente
Foste com meigos gestos empurrando
E a porta foi cedendo mais e foi abrindo
Com passos firmes, seguros, foste entrando
E meu templo de solidão foste descobrindo
Entraste, e que viste? Um templo frio
Onde imperava tirânica a solidão e a dor
Onde cada dia era passado em desvario
E à noite ... a noite com fantasmas de terror
E tu, sempre devagar e de mansinho
Tateando cada gesto, ensaiando cada passo
Ganhaste cada palha do meu gelado ninho
No reconfortante calor do teu abraço
Bateste à minha porta de levezinho
Douraste com teu sorriso o meu viver
Nunca deixes de entrar de mansinho
Não quero mais a solidão. Quero viver.
Bauru, 1999
(tirada do fundo do baú)