No Final do Labirinto

Quando olho no espelho

És tu que vejo,

não sou eu há muito tempo.

Ando rondando à margem da razão

com um candelabro de estrelas

e sete cães que me acompanham

uivando em redondilhas.

Não tenho mais reflexo,

perdi a sombra do que fui

quando entrei no labirinto

circulando pelo tempo

sobre um relógio de sol

a fingir que não percebo

que vestiste minha pele.

Quando os tigres da insônia

me emboscam no poema

és tu quem joga a rede

e enjaula o que me fere,

és tu quem forja a espada

na bigorna do alfabeto

dando a têmpera do tempo

à textura da palavra.

Eu sei, eu sei,antes que chegues,

que chegaste antes de vir.

Qual a rosa se revela

no aroma que anuncia,

qual a música que pulsa

quando ainda é silêncio:

eu percebo, nos meus passos,

as pegadas dos teus pés.

Tu me olhas no espelho

no final do labirinto.