MEU AMOR

Em minha sede aguda -

Deserto que possuo enquanto caminho por alamedas

Bebo-te -

E me sacio e corre em mim o rio

De transversas possibilidades...

De ti vem o mar que me invade

E cobre todas as construções de pedras e nervuras de aço

E se me amedronto em noites de lobisomem procuro teus braços...

Em minha saga de loucura e êxito

Epopéia que me enche a alma de possibilidades

Singro mares rubros e minha nau

Espanta tubarões sensatos cunhados em moedas

E vingo-me de me perder em pensamentos

Pois sei que a alma vasta de refúgios é e será sempre o mapa atual...

Em ti se abrem portais

E neles encontro nomes que não ouço e uso há muito tempo -

Ferreiros e ourives e prestidigitadores e desenhadores de flores...

Em minha capa em que me escondo de vapores e pássaros negros

Escrevo - amo - sei que posso errar em vírgulas e pontos

Mas sei que jamais erro de endereço quando vou ao encontro

De Penélopes e Ariadnes e ninfas que se deitam ao largo

E monstro - ainda que humano - centopéico - vago...

Busca-me no fundo poço onde alguém gritou Deus

Passa a corda à volta e iça-me e alça-me e levanta-me

E nada me dê que não seja perecível

Que não possa carregar e sustentar e por sobre a última montanha

Mesmo que seja uma viagem impossível e porque não estranha

Dentro da carne que de tão densa -

Invisível.