O ser do outro
A gota de suor desprendeu se
despedaçando se na madeira do soalho
inflamação violenta de alma, corpo
profano tocando sagrado,
ave sempre fugidia
orgia de mistérios celebrados
êxtases desconhecidos nas entregas sucessivas,
todas,
sem pausa, transfiguração,
raio iluminando espaços secretos
submersos,
reunião de águas sagradas,
marés de rios entrando fulminantes
no violento oceano ondulado
sem perdão, queixume,
confissão,
podia ver que a chuva se tinha ido
apenas algumas nuvens escuras ficaram,
para testemunhar.
Ela sorriu como na hora
de todas as partidas,
cura suprema das águas doces
da primavera,
transfigurada,
proveniente de além materializado
na satisfação plena, respirada
num só sopro, momento,
grito estourando espelhos velhos
saturados por dramas desvirginados
nas torres falsas de marfim,
cetim tapando sangue.
Apertaram a mão
deixada propositadamente pendente
no reflexo da aura visível
desde primeiro momento,
dor desaparecida por encanto,
não precisavam sequer da palavra,
nem beijo procurando língua seca,
chegava o que antes tinham murmurado
arrancando roupas inúteis
querendo pele, corpo,
existência,
essência,
o ser do outro.