ROTA DE COLISÃO

ROTA DE COLISÃO

E estava ali o macho borboleta

Num lugar qualquer do planeta.

Quando vem um vento do norte

Junto com um feromônio lançando a sorte.

O cheiro de uma borboleta fêmea

Com certeza ela é sua alma gêmea.

Sem pensar ele abre as asas anis

Decolando da pétala de flor de Liz.

No caminho distraído esbarra na abelha

E quase acaba esmagado por uma ovelha

Mas bate as asas sentindo mais forte

E voa para a amada na direção norte

Passa por lindos pés de branco jasmim

E roseiras em flor com pétalas carmim

Distrai com o pólen liberado da flor

E vai pensando apenas nas faces do amor

E fica cada vez mais empolgado e contente

Pois ela esta logo ali e isso é evidente

Contra o sol vê uma linda silueta

Com certeza é a fêmea borboleta

E ai ele entrou na rota de colisão

Acabou preso nas garras do coropião

E serviu de alimento para os filhotes

Servido para vários em vários botes.

Mas e se, somente uma fração de um se

A bela borboleta não tivesse cheiro tão doce

E se o macho não estive naquela longitude

Ou ele estivesse voando em outra latitude

E se no lugar de um vento vindo do norte

Fosse uma brisa fraquinha nada forte?

E o cheiro se dissipasse passando pelo jardim

Será que a historia da borboleta teria este fim?

E a abelha não tivesse atrasado um segundo

Será que ele teria o tão esperado momento fecundo?

E se a ovelha tivesse esmagado a borboleta

Eles seriam apenas personagens de um esteta?

E se no lugar de flores pelo caminho fossem espinhos

Como estaria a borboleta com outros caminhos?

E se o Coropião não tivesse namorado

Teria ele filhote tão faminto e amado?

E se a rota de colisão não fosse borboleta e ave

Teria o poeta inspirado em algo tão belo e grave?

E se o coropião fosse vitima de um estilingue

E por ironia do destino o menino fosse bilíngüe?

E enterrasse o coropião?

Como ficaria tudo então?

Morreria o filhote do coropião

Sem estória lida na luz do lampião.

E teria o macho borboleta transmitido seu gene

Num ato mecânico nem um pouco solene

E isso criaria outras rotas de colisões?

Pois todas as ações têm as suas reações.

André Zanarella 20-12-2010

Esteta = s.m. e s.f. Pessoa que aprecia e pratica o belo como valor essencial.

Crítico, escritor que se dedica ao estudo da estética.

Coropião = f. Ave brasileira.