Deixa-me te amar

Deixa-me te amar em minha noturnidade

das estrelas caladas e fugidias libertas,

jogando o meu cântico feliz na sublimidade

que a lua pinga sobre as ilusões despertas!

Deixa-me te amar como a música nascendo,

quieta em sussurros nos teus olhos meigos,

tão dóceis,duas noites azuladas,mil afagos

que bebem, tom a tom, meu amor contido!

Deixa-me te amar dentro d’uma poça de luz

que resplandece teu doce retrato ondeante,

exorbitando vibração calma que me conduz,

de corpo e alma, oh meu talvegue delirante!

Deixa-me te amar adentrando o seio da noite,

d’onde surgirão auroras aromadas e cadentes,

para eu traçar a curva do horizonte diferente

cheia do bailado sensual dos astros viajantes!

Deixa-me te amar como uma mulher amada,

saciando o gozo e privilégio da rosa cheirosa;

na tempestade vou colher a semente fecunda

e inventar sons no luar e na brisa misteriosa!

Deixa-me te amar leve como resto de nuvem

com lábios de beijar e braços de aconchegar,

e ainda que tudo se acabe, farei da miragem

o mais real dos sonhos sublimes para sonhar!

Ainda que seja árduo t'amar à tal distância,

deixa-me. Na mansuetude d’um pensamento,

que quanto mais gira o mundo, mais volúpia

se adoça,floresce e promete.E mais te sinto!

Santos-SP-21/10/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 21/10/2006
Código do texto: T270272