Não sei, não

Sei, sim sei,

amanhã existirei, sempre existi,

serei como fui até hoje,

fugitivo

de outonos e invernos

onde sol luta para nascer,

primaveras e verões

com claridades a mais para qualquer fuga

planeada,

sei, sim sei,

dos cabalistas, talmudistas

conhecedores do outro mundo, além,

das fúrias,

as deusas aladas da consciência,

entrando sem permissão no sonho,

sei, sim sei,

de palíndromos em espelhos paralelos

onde reviver é

reviver…,

ou espíritos noctívagos insones

querendo escrever sem mãos, dedos,

mensagens desconexas do além inventado,

sei, sim sei,

que não passo de um corpo comprimido,

desejoso em controlar espaços com ganâncias,

arrogâncias, posses,

ressurreições impossíveis,

querendo saber rota das nuvens da chuva

para não molhar este corpo seco,

sei, sim, sei,

que as cinzas do meu corpo cremado

serão varridas pelos ares

sem caírem no oceano desejado,

mil desculpas pronunciadas então,

restando heptadecágono vazio, oco,

não sei, não,

qual a cor do amor

que me consome…