Destoado tempo

Não há tempo no relógio

que conta as horas na torre da igreja,

no tocar insistente dos sinos,

apenas a certeza de que o amanhã já passou,

a vida segue procurando por minutos

muitas vezes não percebidos,

perdidos nos entremeios dos sonhos

que nem ao menos o mundo mudou.

Corre o riso, que solto,

procura a face livre de qualquer opressão,

na lápide fria jaz em mármore

o abraço que sem tempo se arrastou,

olhos parados sem visão

procuram pela luz que não mais se pronunciou

no sol que acolhia a todos

e que já cansado, fora do tempo se apagou.

Envolve-se (sem ) horas

nas tramas de uma teia rasgada em despeito,

fora o que pensam, são “glórias”

entoados nas ave-marias de madrugadas sem dó,

as mãos que sustentam o cálice

no amargo clamor que nunca chega aos céus

também tecem adeuses perdidos

pelos átrios dos altares de deuses sós.

Correm os sonhos

como correm os corpos largados sem sol,

não há tempo marcando as horas

nos relógios que contam o presente que passou,

leva o futuro na força do vento

desfazendo o resto que o tempo guardou

na imagem do homem que sem tempo retoma ao pó.

29/09/2006

Aisha
Enviado por Aisha em 23/10/2006
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