Crucifixo

Na parede sobre a cama, a cruz aponta o caminho,

pára o vento sob o céu cinza ameaçando calar a voz,

sonha ainda o corpo entregue, apático, adormecido

com o azul de outro céu que há muito o deixou sozinho.

Nos olhos, a opacidade do vazio ao qual se entregou,

nega as vestes humanas no espírito de quem acreditou,

sangra o coração abatido sem ritmo, descompassado,

a espera do milagre que ao seu deus tanto clamou.

Troca o sorriso pelas linhas que sua face marcou,

alimenta o tempo respirando saudade que carrega nas mãos,

não é mais que um corpo assomado aos desencantos

nos infindáveis desencontros de vidas secas sem ilusão.

Volta esfera nas lembranças de tudo que sempre desejou,

com um canto em voz rouca, desencanto pelo quarto vociferou

e na parede sobre a cama, a cruz dorme sem lhe dar ouvidos

na dor que seu corpo padece, a prece de quem muito amou.

11/10/2006

Aisha
Enviado por Aisha em 23/10/2006
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