Com amor no olhar

Ao teu ouvido digo, meu amado,

que um sentimento, embora nos encante,

soçobra amargo se no peito amante

em regas certas não for cultivado.

A voz que toca ouvidos em surdina

ou, tresloucada, geme de prazer,

encanta o ato e, mesmo sem querer,

é luz que ofusca a cena que domina.

Toda a ternura que o cantar desperta

(do azul coral que se supõe divino)

aplaude o sonho e o querer liberta.

E, nessa hora, o canto se faz hino,

clamando ao tempo em prece quase certa

que exista mesmo esse tal "destino".

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 24/06/2005
Código do texto: T27317