DO QUE O AMOR É CAPAZ

Quando teus nervos se transformarem em fios

Descascados nervosos rápidos elétrico cio

Teu corpo blusa de carne vestimenta sanguínea

Dissecada sem casca sem nada a cobrí-la invisível linha

Teu rosto em plástico duro muro de tuas pupilas

Tua boca medieval arcaica trovadora petrificada dentes em fila

Quando tuas sensações forem pulsos entrecortados

Repetidamente espasmódicos em fiapos de gozo açucarado

E o demônio na soleira da porta rir de tua vaga lembrança

E as nações não se lembrarem de tua face de doce criança

Nem tua mãe nem teu pai nem teus avôs nem tua irmã de trança

Ainda assim verás um pombo a voar perto do teu cérebro teu porto

A brisa fresca da manhã a te dar uma esperança um só sopro

E quiseres voltar a sentir amor por quem quer que seja

A quereres sentir o gosto daquele martini daquela cereja

E repetires ao céu que perdão pedes seja quantas vezes for

E repetires que teu pão tua comida trocarias só para sentir amor

E lasso e devorado olhares ao teu redor e nada mais te restares

E ao pedires que depositem teu corpo e tua alma em altares

E ao quereres se sentir só para a última reza em nome da paz

Vendo teu espírito passando ao longe saberás do que o amor é capaz.