O poeta e o canário

O poeta e o canário

Hoje no clarear o dia

Ouvi com grande alegria

Dois canarinhos cantar

Com bicadas de ternura

O casal trocava juras

Eternamente a se amar

Naquela árvore copada

Onde estava a pousada

As avezinhas do amor

Veio um gavião malvado

Passando o bico curvado

A canarinha levou

O canário apaixonado

Voou desesperado

Perseguindo o mal feitor

Em seguida foi voltando

Muito triste soluçando

Num corgear cheio de amor

Senti naquele momento

O tão triste sofrimento

Por perder quem tanto amou

Lembrei da mulher querida

Pedaço da minha vida

Que não soube dar valor

Aquele anjo encantado

Que vivia do meu lado

Que nasceu para me amar

Que troquei pela bebida

Minha deusa prometida

Que foi para não mais voltar

Entre eu e este canário

Pulando de galho em galho

Só a saudade restou

Eu troquei minha querida

Pela maldita bebida

E a dele o gavião levou

Se conforme canarinho

Vá procurar outro ninho

Não cante perto de mim

O seu cantar apaixonado

Recorda um triste passado

Do poeta de Jardim.

ALFREDO JACQUES