QUANDO EU

Tenho medo de estar nu e não estar vendo

De estar por fora por estar tão por dentro

Do que acontece agora neste momento...

Tenho medo de ter ido e não ter voltado

Ter sido engolido pelo facho

De luz que tem me iluminado...

Tenho medo de ter roubado a luz

E não ter devolvido

Esse maçarico a bicar meu fígado de vidro...

Tenho medo de ter estado entre os flagelados

E ter me sentido um desocupado

Por não ter ouvido o estampido

Do dique arrebentado...

Tenho medo da verdura que deixei de comprar

Para economizar uns simples trocados

E ter comido comida vinda do mar

Dos desesperados...

Tenho medo de ter amado

Quem merecia apenas prazer

E ter dado prazer

A quem deveria ter amado...

Tenho medo das escrituras

Por saber sua origem

E tê-las lido como bulas

Pra conter a vertigem...

Tenho medo de ter tido medo

Quando hora era de ter avançado

Contra as feras do tempo primevo

Por estar no futuro tão ocupado...

Tenho medo e com ele ando

Pelas planícies do cérebro meu

Que sabe que hoje é quando

Sou todos e ainda sou eu.