UMA VOZ NA MADRUGADA

O poeta canta pela madrugada,

bate o violão, agita

as estrelas no céu.

Em seu peito, arde

a fúria de uma paixão.

Um que acordou escuta

a voz do poeta.

Abre a gaveta,

puxa um revólver,

sai à rua.

A noite, fria.

O que acordou respira fundo

o ar da madrugada

e, de repente, lembra de

outras madrugadas

na rua

da juventude.

Do outro lado da rua,

no meio-fio,

o poeta e o violão.

A voz de estentor ecoa

e corta o silêncio da madrugada.

Um tiro corta a voz.

O poeta sangra.

Com o seu sangue, esvai-se

a fúria de sua paixão.

O que acordou volta para a cama.

Silencia.

Dorme.

Sonha

com a madrugada de sua juventude.