ESTÁTUA
Eu me contento em olhar
o seu olhar
escutar
a sua música
sem vida própria
cascalho batido pelo mar
banco de calçada em manhã de sol
de quase primavera
Contento-me em ser
dado de jogo pra lá e pra cá
ao acaso
rodopiando na mesa
enquanto você
cheiro de café invadindo minh’alma,
me acalma
copo de luar que embriaga
perfuma a noite
e a dor de ser anestesia
Deixo-me passar
areia entre seus dedos, contente
o tudo e o nada do momento
pipoca no cinema
incapaz
de um gesto a mais
que perturbe esse instante
brincando de estátua na vida
Ana Guimarães