Mais Nada se Move

Mais Nada se Move em Cima do Papel

nenhum olho de tinta iridescente pressagia

o destino deste corpo

os dedos cintilam no húmus da terra

e eu

indiferente à sonolência da língua

ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz e tudo esqueço

no interior desta ânfora alucinada

desço com a lentidão ruiva das feras

ao nervo onde a boca procura o sul

e os lugares dantes povoados

ah minha amiga

demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas

inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a viver sem ti

com uma esferográfica na mão e amor no coração