Poeta Jardineiro
Como foi que ousaste declamar-me a semente desse amor,
fazendo dela broto e rama no solo fértil da tua criação?
Importa é que me plantaste à beira de uma calçada de nome romance
e ali regaste-me a vida com o prelúdio advindo das tuas palavras doces
tal qual simples jardineiro ao sonhar com o desígnio de sua flor ...
Cuidaste tanto deste broto que jogaste ao chão até torná-lo deveras belo,
intensamente, até que nem sei se hei de ser tua muda ou tua musa...
E no silêncio que fertiliza a frágil planta ao chão esquecida,
tu me fazes muda ao tocar-me com a tua singular ternura
e me tomas por tua musa ao cultivar-me com versos em fecundação...
momentaneamente, poeta singelo que semeia solidão e nostalgia,
fazes crescer esta cepa de quem cuidas com carícias de tuas mãos...
Ao plantares ternura, fizeste-me florir até nos instantes de solidão,
perpetuaste lindamente este sentimento entre a estiagem e o verão,
poeta meu, álacre como as cores que se redobram nas manhãs...
No jardim desta calçada fico eu, a sonhar a tua poda e a tua poesia,
sinto teu toque meigo com a voz que traduzes das palavras que absorvo
e desabrocho como um espontâneo sorriso impossível de se ter,
tudo porque me cuidas, não me deixas nunca só, dedicado jardineiro,
és o poeta que me ama mais que o tempo subtraído de ti pra mim...
Faz-me a face qual flor orvalhada, brilhando ao sol nos olhos refletido,
protege-me sempre das dores do mundo, fica comigo neste jardim,
jardineiro dos dias em que de tantos versos me curaste a melancolia,
meu poeta de todos os tempos, veste-me da vida etérea e eterna,
colherás de mim a melhor rosa, o amor meu que jamais deixará de ser teu.