Poeta Jardineiro

Como foi que ousaste declamar-me a semente desse amor,

fazendo dela broto e rama no solo fértil da tua criação?

Importa é que me plantaste à beira de uma calçada de nome romance

e ali regaste-me a vida com o prelúdio advindo das tuas palavras doces

tal qual simples jardineiro ao sonhar com o desígnio de sua flor ...

Cuidaste tanto deste broto que jogaste ao chão até torná-lo deveras belo,

intensamente, até que nem sei se hei de ser tua muda ou tua musa...

E no silêncio que fertiliza a frágil planta ao chão esquecida,

tu me fazes muda ao tocar-me com a tua singular ternura

e me tomas por tua musa ao cultivar-me com versos em fecundação...

momentaneamente, poeta singelo que semeia solidão e nostalgia,

fazes crescer esta cepa de quem cuidas com carícias de tuas mãos...

Ao plantares ternura, fizeste-me florir até nos instantes de solidão,

perpetuaste lindamente este sentimento entre a estiagem e o verão,

poeta meu, álacre como as cores que se redobram nas manhãs...

No jardim desta calçada fico eu, a sonhar a tua poda e a tua poesia,

sinto teu toque meigo com a voz que traduzes das palavras que absorvo

e desabrocho como um espontâneo sorriso impossível de se ter,

tudo porque me cuidas, não me deixas nunca só, dedicado jardineiro,

és o poeta que me ama mais que o tempo subtraído de ti pra mim...

Faz-me a face qual flor orvalhada, brilhando ao sol nos olhos refletido,

protege-me sempre das dores do mundo, fica comigo neste jardim,

jardineiro dos dias em que de tantos versos me curaste a melancolia,

meu poeta de todos os tempos, veste-me da vida etérea e eterna,

colherás de mim a melhor rosa, o amor meu que jamais deixará de ser teu.

Nalva
Enviado por Nalva em 15/11/2006
Reeditado em 17/11/2006
Código do texto: T291673
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