EM TEUS BRAÇOS
A pétala, depois de usada, se deita dentro do livro
E conta às palavras que dormem coisas do lado de fora...
Cada palavra acordada sonha uma aventura
Viver às custas dos perigos de um grande amor
Deitar-se à beira-mar e esperar a onda linguosa
Abraçar-se ao urso de pelúcia e ser criança
Escrever na árvore seu próprio nome
E soletrá-lo aos lagartos
Flexível como a língua do tamanduá
Buscar o útero do cupim recheado...
O verão traz a brisa marítima que se deita na varanda
Teus pés, asas invertidas, roçam jacarandás macios
O que conversam tanto nuvens tão altas e brancas?
Teus olhos seguem lívidas velas como roupas no varal do mar
Se te dessem um oceano dentro de um copo
O beberia ou faria respingos sobre a seca pele da terra?
Viver umedece, viver duas vezes orvalha,
Viver para sempre chove...
Tremo de pensar que posso amar sem derrubar bandejas
Escalar montanhas e descê-las e niná-las ao ruido de córregos
Retirar o pássaro de dentro dos ombros
Empená-lo
Tão vivo como o ar bonito
Voar até cair em teus braços e adormecer.