primaveras…
apresentando O Transversal "Ao som dos Mares e Marés")
Nada sossegou em redor, nem alma,
vento e mar gémeos inseparáveis
fustigando a terra nívea de espuma,
flocos dispersos destruindo, sem piedade,
remorsos mesquinhos, falsos…
[ Pensamentos inimagináveis de glória, valentia incluída,
abafados em gritos histéricos,
estéreis pronúncias negras vociferando destinos,
destinos repetidos, sem alma,
nesta hecatombe uma ave permanecia suspensa,
suspensa num galho escuro, mirando na sua quietude,
sem sequer em sobressalto a agitação de algo já visto,
tudo repetido nos séculos de passagem furtiva,
como se a renovação abrigasse destruição
encantamento perverso revisitado, ressentido.]
Desliguei-me da cena apocalíptica
varri-a,
a primavera regressara, sentimentos desconhecidos,
[esperados, reencontrados] aumentavam
fustigando-me,
tudo sossegaria por fim,
de mão dada caminharemos roçando os pés pela areia molhada,
uma leve brisa tocará as faces, os olhares,
olhares entre promessas, certezas,
o mar, o sol,
as marés, o vento,
em calmarias, bonanças,
acolherão o reflexo das luzes suspensas e cintilantes,
acolherão os corpos despidos...