AS BATIDAS DO MEU CORAÇÃO

Perderia por você meu navio,

Horas à fio,

Sentando à beira do cais

Com estrelas a conversar

Estranhos fonemas e sensoriais ais...

Um amor procuro

Que nunca tenha amado,

Que de doces carícias não saiba,

Nem do que há de salgado

No amor, suas delícias, raiva,

Que tenha desejos

E que não tenha pecado

Por falta de medo...

Que nunca tenha tomado chuva abraçada,

Não tenha caminhado de mãos dadas pela estrada,

Não tenha sorrido apenas aos bons amigos,

Não àqueles de cumplicidade ou de castigo...

Um amor que tenha lido poemas,

(e que não eram meus),

Que procurasse algo indefinível,

Que tocasse seu coração

Celeste viagem entre dois amantes,

Que ele fosse eu...

Um amor que nunca tenha tocado um instrumento,

Que fosse feito de olor e vento,

A primeira música tocada

Se chamasse "Fim da solidão",

Começasse suavemente

Com as batidas do meu coração...

Um amor assim é que procuro,

Não direi claro e nem escuro,

Amor que aprendesse comigo

A tecer as mãos que irão por sobre o muro

Fazer os olhos encontrarem o paraiso,

Nus de alma, na plenitude da razão

E da falta de juizo.

Se a que procuro estiver lendo agora,

Anda, venha, chamarei-te princesa,

Amada, amante, lady, senhora.