Taça-Carta de Adeus

Apenas um único adeus em beijo

De batom nascido só para o desejo

Na borda sonora de cristal da taça

Acessório enfeite do Amor indez

Que ficou grávida de apenas três

Quartos do vinho verde temporão

Na penteadeira populosa em cheiros

Aprisionados que vieram de França

O peignoir, pele anunciadora e primeira

Dos brinquedos de amor e de dança

Quedou vazio, sem forma, murcho e pálido.

Embolado trapo na guarda da cadeira.

O abajur velou o corpo esquálido

Burlado no sono, sem sonho, inválido.

Grudado ao lençol pela própria semente

Da safra de grãos da impossível gente

Tão grande o desgosto não foi trabalhar

Sentiu-se no nada, enfraquecido e doente

Quando, à meia taça do dia a esvaziar

Não encontrando a sinuosa serpente

Beijou os lábios de batom impressos

E sorveu de um gole os restantes quartos

Quebrou a taça atrás de si, um grego

Estilhaçando o seu traído apego

Àquele Amor de mil enganos fartos.

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 29/06/2011
Código do texto: T3064985
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