TEMPESTADE

A lagoa calma
com o reflexo
do brilho do sol
enfeitando seu leito.

O céu límpido
em um azul puro
e meu coração machucado
pulsando em toques
silenciosos.

Quase não respiro
para não ver sair de mim
pequenas mágoas
reunidas ao longo
do tempo:
não quero enfeiar o dia.

Sorrio um sorriso de aparência
tentando manter
distante a transparência
da dor que transborda pelos
meus poros
e marca minha face
com sinais que se perpetuarão.

Entre a dor
de algo que está morrendo,
a inquietação de algo que
está nascendo,
de forma tão intensa,
que me atemoriza.

Quero fugir,
sair por algum tempo
de mim.
Assistir a este filme
do lado de fora.

Entre os prédios antigos,
bem conservados,
vejo o mar
que me sinaliza
que nem toda calmaria é
verdadeira,
pois quem
pode afirmar o que há submerso
naquelas águas?

A loucura
necessária a transformação
chegou, arrastando-me
sem piedade,
exigindo uma sobriedade
que não sei se conseguirei manter.

Bandos de pássaros deslizam no céu
em uma rapidez leve
que me faz crer
que as renovações são possíveis.

Não sou mais tão franca
perdi minha coragem em
alguma esquina
em que tropecei.

Em tudo isto
apenas sinto as marcas
que estão se fixando
por conta própria em meu rosto,
como se fossem donas de mim,
senhoras do tempo,
que não perdoam
nossos erros e tão pouco
nossos acertos.

Lá fora,
o tempo está ótimo.
Aqui dentro,
a tempestade
não tem hora para partir.