A Lua e eu

Diante do espelho da fama

O poeta chora e até esperneia

Seus olhos tentam aproximar-se

Do amor que longe vagueia.

Da lua que volta da ladeira

Cacheia triste a devassidão

O poeta, louco alucinado, então,

Tateia a tundá da paixão.

Entre os balões transparentes.

Cintilam pelo amarelo doirado

O poeta, de visão entorpecida.

Descerra a touca do globo lunar.

Em receoso brilho e embriaguez

Pulsa a ulceração e nudez pura

O poeta então se lava em timidez

De descoramento e brandura.

Cáustica e toda aflita vagueia

A lua altera-se a figura geométrica

O surgimento pausado do êxtase

Acentua o espigão da lua, poeta!

Afagam-lhe os braços e se aquieta

E o ventre que uma vez no mês menstrua

A lua se recurva qual lindo estojo

Num desvario de amor e devassidão certa.

De improviso o encanto acrescenta

Em frisson que persistem calmos

A lua modifica-se a outra parte

E mostra-se de frente, despida alma.

Da cavidade vem à turgescência gostosa

De estrelas e nuvem desfeita na hora

No oceano acaricia a aura mansa e ditosa

Salgada fragrância da lua e da aurora

E cresce a lua, no fascínio, desenvolve-se.

Dilata-se, sublima-se e estufa...

O poeta em silencio põe-se a rezar

Olhando-a na beleza da lonjura.

Dome a lua, em seguida o dia amanhece...

E diminui-se e em paz se vai...

O poeta desvanece-se quieto demais

No cantos e nas belas plumas enrolado

E tudo passa a ser loucura tranqüila

No seu mosteiro de despeito apagado.

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 11/12/2006
Reeditado em 13/12/2006
Código do texto: T315017
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