O Que Morreu De Amor

À meia noite e meia.

Não amem, jovens, eu vos proclamo!

Garret tinha razão isto é um inferno

E, no entanto, eu que vos conjuro, amo!

Amo de um amor descomunal e eterno!

Mas não amem, vossas vidas preciosas

Não deixem resvalar pela senda desperada!

Dos que se perdem em horas ociosas

Sem motivação para acreditar em nada!

Jovens, o mundo é nosso e devemos

Antes de desperdiçar nossas energias

Lutar e defender aquilo que cremos

E não perder nossa vida em vãs orgias!

Somos nós que devemos acolher

A criança abandonada e o velho;

Nós que primeiro devemos fazer

Os caros princípios do Evangelho!

Não fitem as mulheres fatais de frente

Em seus olhares estão terríveis laços!

Que acabam aprisionando a gente

Tolhendo todos os nossos passos!

Antes a fronte erguida de um impassível

Filósofo alheio aos grilhões do desejo!

Loucura é acreditar no impossível!

Sabedoria é duvidar do que não vejo!

A liberdade incomensurável

Ou mais terrível calabouço.

É isto que o amor execrável

Oferece-me, quando o ouço.

Verdades supremas só uma alma

Livre e sensata pode atingir.

Mas como pode manter a calma

O que de amor sente-se destruir?

“Ah, se ela voltasse para mim!”

Grita vosso coração delirante,

Mal sabeis que fora melhor o fim

A ficardes escravo por mais um instante.

Aracati-Ce, 25 de outubro de 2006./ André Breton.