EU AMO DEMAIS
Amo demais,
mais do que deveria,
mais do que o bom senso
pode permitir.
Amo sem medo
do vexame, da palavra,
da entrega,
da loucura.
Jogo-me sobre o amado
como quem se atira
em igarapé,
sem temor da fundura,
da largura,
da lama movediça.
Fecho os olhos,
desço ao fundo.
Sugo as forças de meu amado.
Bebo seus líquidos,
mordo sua carne
e o deixo exangue
sobre os lençóis.
Vou até a cozinha,
passo manteiga no pão,
ponho leite no café
e o alimento
para mais duas horas
de exploração.
Ele não foge.
Ele é homem.
Ele se fecha sobre mim,
me protege,
arranca as minhas vísceras
com os dentes
e eu grito,
e grito muito,
não de dor ou desespero,
mas ensandecida
do mais pleno tesão.
E quando ele sai do quarto,
abre a porta da casa
e cai no mundo,
olho o relógio
e penso
que uma noite
é pequena demais
para quem ama mais do que deve...