EU AMO DEMAIS

Amo demais,

mais do que deveria,

mais do que o bom senso

pode permitir.

Amo sem medo

do vexame, da palavra,

da entrega,

da loucura.

Jogo-me sobre o amado

como quem se atira

em igarapé,

sem temor da fundura,

da largura,

da lama movediça.

Fecho os olhos,

desço ao fundo.

Sugo as forças de meu amado.

Bebo seus líquidos,

mordo sua carne

e o deixo exangue

sobre os lençóis.

Vou até a cozinha,

passo manteiga no pão,

ponho leite no café

e o alimento

para mais duas horas

de exploração.

Ele não foge.

Ele é homem.

Ele se fecha sobre mim,

me protege,

arranca as minhas vísceras

com os dentes

e eu grito,

e grito muito,

não de dor ou desespero,

mas ensandecida

do mais pleno tesão.

E quando ele sai do quarto,

abre a porta da casa

e cai no mundo,

olho o relógio

e penso

que uma noite

é pequena demais

para quem ama mais do que deve...

Viviane Rolando
Enviado por Viviane Rolando em 12/12/2006
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