Cantos!

Pois não é que o amor também precisa de seu canto,

Para que depois de morto, no seu descanso,

Posso receber visitas, homenagens e flores?

E no seu canto de descanso,

Idolatrado,

Permaneceria vivo no seu fim,

Mas, enfim, aquietado e tranqüilo.

Pois não é que o amor, depois de morto,

Posto de lado, para ser esquecido,

Não se aquieta nunca.

Arruma cantos e mais cantos.

Espalha-se pela vida de quem o viveu.

Toma-a para si mais do que quando vivo.

Pois não é que o amor depois de morto,

Descansa nas nossas casas,

Acomoda-se em nossos baús e caixas.

Depois de morto, sempre reaparece naquele jardim, onde o primeiro beijo aconteceu,

Naquela árvore, junto à sombra que já cuidou dos amantes...

Surge intenso em cada canção, em cada melodia, em cada verso.

Vem no cheiro dos corpos suados, que reascende de surpresa, cheiro único, preciso...

Aparece quando faz sol, quando chove...

Vem junto com a primavera.

Mistura-se entre flores e frases.

Mas onde ele mais gosta de se instalar é na ausência de nossos risos...

É na ausência de nossa alegria, ou mesmo quando estamos sob intensa gargalhada.

Surge na ausência de êxtases, nas noites insones...

E em cada lágrima incontida!

Ah amor, por que não descansas em paz?

A cada verso que leio, ou vejo, lá está ele...

sóbrio, determinado, latejante...

Dói lembrá-lo... Dor lacerante!

Esses cantos por onde descansas, amor, são os meus cantos,

Não pode repousar neles.

Já não basta estar gravado na minha alma,

Agora quer apossar-se dos meus cantinhos, dos cantinhos de minha vida.

Quer habitar minhas esquinas e minhas gavetas...

Ser personagens de meus versos...

Por que amor? Por que?

Aquietai amor, para que minha história prossiga,

Finca-te em um único canto e te prometo:

Visitarei-te nas solitárias noites frias...

Nos “finados” do amor...

Tomaremos vinho...

Brindaremos...

Cantaremos...

Lembraremos da “causa-mortis”,

(Inanição por abandono)

E depois de rirmos juntos pelos tempos vividos,

Deixo-te no teu canto de descanso

E volto pro vazio em que me deixastes.

Flavio Tatu
Enviado por Flavio Tatu em 14/12/2006
Código do texto: T318045