Desencontro de amor
Um dia,
recebi versos anônimos:
imediatamente alucinei
a origem deles:
eram de quem me amava;
— só podiam ser! —
e quem me amava
era quem eu amava.
Foi preciso longo tempo
de contradições
para que dissociasse
as duas deduções:
quem me amava
não era quem eu amava:
quem me amava era a poetisa,
aquela que escrevia
cartas de amor
disfarçadas de poesias:
não era ela quem eu amava,
apesar de amar suas poesias.
Hoje ela não me escreve mais.
E agora eu alucino
o destino das poesias
que, sei,
ela ainda escreve.