Desencontro de amor

Um dia,

recebi versos anônimos:

imediatamente alucinei

a origem deles:

eram de quem me amava;

— só podiam ser! —

e quem me amava

era quem eu amava.

Foi preciso longo tempo

de contradições

para que dissociasse

as duas deduções:

quem me amava

não era quem eu amava:

quem me amava era a poetisa,

aquela que escrevia

cartas de amor

disfarçadas de poesias:

não era ela quem eu amava,

apesar de amar suas poesias.

Hoje ela não me escreve mais.

E agora eu alucino

o destino das poesias

que, sei,

ela ainda escreve.

Marcelo Grillo
Enviado por Marcelo Grillo em 18/12/2006
Código do texto: T322041