Amor Sem Fruto, Amor Sem Esperança

Amor Sem Fruto, Amor Sem EsperançaAmor sem fruto, amor sem esperança

É mais nobre, mais puro,

Que o que, domando a ríspida esquivança,

Jaz dos agrados nas prisões seguro.

Meu leal coração, constante e forte,

Vendo a teu lado acesos,

Flérida ingrata, os ódios, os desprezos,

O rigor, a tristeza, a raiva, a morte,

Forjando contra mim, por ordem tua,

Mil setas venenosas,

Em prémio destas lágrimas saudosas,

Inda assim continua

A abrasar-se em teus olhos... Vis amantes,

Corações inconstantes,

De sórdidas paixões envenenados,

Vós, a cujos ardores,

A cujos desbocados

Infames apetites

A Virtude, a Razão não põe limites,

Suspirai por ilícitos favores,

Cevai-vos em torpíssimos desejos,

Tratai, tratai de louco um amor casto,

Que eu nos grilhões que arrasto;

Tão limpos como o Sol, darei mil beijos.

Peçonhenta aliança,

Vergonhoso prazer, de vós não curo;

De ti, sim, porque és puro,

Amor sem fruto, amor sem esperança.

Bocage

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 19/10/2011
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