Não Canse o Cego Amor de me Guiar

Pois meus olhos não cansam de chorar

Tristezas não cansadas de cansar-me;

Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me

Pôde quem eu jamais pude abrandar;

Não canse o cego Amor de me guiar

Donde nunca de lá possa tornar-me;

Nem deixe o mundo todo de escutar-me,

Enquanto a fraca voz me não deixar.

E se em montes, se em prados, e se em vales

Piedade mora alguma, algum amor

Em feras, plantas, aves, pedras, águas;

Ouçam a longa história de meus males,

E curem sua dor com minha dor;

Que grandes mágoas podem curar mágoas.

Luís Vaz de Camões

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 22/10/2011
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