Camões e Augusto dos Anjos falando de amor

“Amor é um fogo que arde sem se ver;”

“Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!”

“É ferida que dói e não se sente;”

“O amor na Humanidade é uma mentira.”

“É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;”

“É. E é por isso que na minha lira

De amores fúteis poucas vezes falo”.

“É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É um não contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;”

“O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

Quando, se o amor que a Humanidade inspira

É o amor do sibarita e da hetaíra

De Messalina e de Sardanapalo?!”

“É um estar-se preso por vontade;

É servir a quem vence o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode o seu favor

Nos corações humanos amizade

Se tão contrário a si é o mesmo amor?”

“Pois é mister que, para o amor sagrado,

O mundo fique imaterializado

Alavanca desviada do seu fulcro –

E haja apenas amizade verdadeira

Duma caveira para outra caveira

Do meu sepulcro para o teu sepulcro!”

Cícero

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 28/10/2011
Código do texto: T3302694
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.