Camões e Augusto dos Anjos falando de amor
“Amor é um fogo que arde sem se ver;”
“Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!”
“É ferida que dói e não se sente;”
“O amor na Humanidade é uma mentira.”
“É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;”
“É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo”.
“É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;”
“O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra
De Messalina e de Sardanapalo?!”
“É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?”
“Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
Alavanca desviada do seu fulcro –
E haja apenas amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira
Do meu sepulcro para o teu sepulcro!”
Cícero