VOYEURISMO
Escrevo com outras mãos.
Da janela, vigio
a casa ao lado.
Descrevo corpos
nus e mortos
e vejo a lua
como nunca antes.
Há alguém em mim:
não sou eu,
disso tenho certeza!
Hoje estarei só.
Viajo na cama
de quem vigio
e me torno a mulher
que se abre em flor
para receber do amado
o beijo lascivo.
Sou eu quem dança
e rebola
e gira
com aquele homem,
estranho homem
que não conheço.
Conheço o meu corpo
e tiro dele
as gotas plenas
de um gozo.