UM GRANDE AMOR

Um grande amor de coisas tão miúdas é feito

Que não se vê, não se compara, quiçá se mede,

Lhe habita o centro diamante nenhum perfeito,

Buscar-lhe a alma e a essência não procede...

De várias pontas como uma estrela ele é,

De noite um sol tão radiante e infinito

Que vai do topo da imensidão ao pé...

Um grande amor não prende sonhos, nem os ata,

Reza com rios a correnteza que dá no mar,

Acha-se todo ou só metade na pedra ou mata,

É logo ali, para quem procura, o encontrar...

Aceita o medo e até lhe faz muitos carinhos,

De dia é lua a iluminar olhos aflitos,

Por nunca andar de si tão só será sozinho...

Um grande amor desfaz os nós que cega a alma,

Repara o barco que nos faz todos loucos marujos,

Por ser do vento o filho eterno possui a calma

Dos corações dos vendavais e caramujos...

Põe-se disposto ao tão antigo e ao que é menino,

Em noite é dia e à noite seu par mais claro,

Por ser a chave do segredo faz-se destino.