Se queres me encontrar
Se queres me encontrar
Olha para o céu anil
E lá hás de me avistar
Como uma nuvem pueril.
Se ainda assim não puderes me ver
Olhas, pois, para o céu noturno
Lá serei uma estrela a te proteger
Dos perigos do mundo soturno.
Não me viste ainda?
Volta teu olhar para a lua cheia
De lá te olho tão linda
E rio minha luz que te clareia.
Não conseguiste ver-me na lua?
Não! Eu não posso crer que estejas cega;
Tua consciência está tão nua
Que não vês o sentimento que tua vida rega.
Se mesmo assim teu olhar não me alcança
Olha então para o sol no firmamento
Lá estarei como tua vida e tua esperança
De amar, sorrir e vencer o sofrimento.
Não! Eu não acredito
Que não me percebeste no espaço sideral.
Teu amor é tão bonito
Mas parece de uma fragilidade especial.
Querida, lança tuas vistas às terrenas paisagens
Estarei em todos os lugares;
Se me vires não acredite em miragens
Pois adorarei se me beijares.
Mas se ainda assim
De me ver não fores capaz
Resta só o mar sem fim
E lá a solidão não é fugaz.
Presta atenção ao mar revolto ou sereno
Eu estarei sob ou sobre as ondas
À espera de um amor verdadeiro e pleno
Para que a vida te não me escondas.
Se após isso tudo
Tu ainda não me vistes
Creio que me iludo
E que seremos sempre tristes.
Meu amor, olha para teu interior
Já que não me achaste cá fora,
Mas olha com carinho e com amor
Para que eu não resolva ir embora.
Ah, não! Não creio nisso que a vida te fez!
Não podes tu procurar-me em mim mesmo;
Isso é total e absurda estupidez
Pois eu sou um completo labirinto a esmo.
Não me acharás enquanto em mim procurar-me
Se nem me encontro mesmo eu
Como podes apesar de todo teu charme
Achar-me onde meu eu se perdeu?
Por isso perdoa os meus desatinos;
Ou suporta a minha agonia;
Pois são os mesmos nossos destinos,
Mas não as musas de minha poesia.
Cícero