Saudade mata?

Ô saudade que mata

A cada dia me tira forças e mais forças

Vontade de arrancar as veias tortas de meu braço

Furar um cantinho do olho

Entupir o meu nariz com música brega

Ô saudade que mata

É a tanajura no palito de fósforo

É o besouro empurrando a terra

A cigarra se esguelhando no anoitecer

A cadelinha doente porque comeu mal

Ô saudade que mata

Como a “solidão que é fera”

Tal como a luz que se apaga

O cachorro que devora o gato já morto

E o mendigo, ainda humano, que sai dos montes de cobertores com o lixo

Ô saudade que faz viver

Quando ela chega

Abre aqueles olhos

Rasga no vento o sorriso lindo e claro

E me beija sem dó

Ô saudade que faz viver

Para nela poder ver

A vida renascer

Nela viver o ser

E no seu abraço me ter

Ô saudade que faz viver

Viver para continuar a amar

Para nela minha boca arregaçar

Dela jamais me arrancar

E no seu espírito me perder para sempre encontrar.